Notícias

As letras “A.M.D.G.” — Ad Maiorem Dei Gloriam, em latim “para a maior glória de Deus” — estão por toda parte nos campi de colégios e universidades jesuítas ao redor do mundo. Elas aparecem em uniformes esportivos, camisetas, brasões escolares, papéis timbrados e protetores de tela. Estudantes e ex-alunos de escolas jesuítas já tatuaram essas letras nos braços e nas costas e, ao se encontrarem, graduados de diferentes escolas da Companhia de Jesus frequentemente as pronunciam entre si de forma cúmplice, quase conspiratória.

A frase, atribuída a Santo Inácio de Loyola, é o lema da Companhia de Jesus. Juntamente com sua oração Suscipe, constitui o fundamento filosófico da ordem. Em ambos, é possível notar resquícios de Inácio como cortesão.

Inácio dedicou sua juventude ao serviço do rei Fernando da Espanha, buscando conquistar glória para seu patrono e para si mesmo. Durante sua recuperação de um ferimento grave na Batalha de Pamplona, em 1521, Inácio viveu uma experiência de conversão, mudando sua lealdade do senhor terreno para o Senhor celestial. Deixando de lado a ambição de conquistar louros terrenos ou agradar os superiores sociais, passou a dedicar sua vida a honrar a Deus. Convenceria seus companheiros na Companhia de Jesus (e todos os que depois seriam por eles formados) a fazer o mesmo. Assim nasceu o lema que enfatiza que tudo deve ser feito “para a maior glória de Deus”, e também o Suscipe, no qual se pede ao Senhor que “tome e receba” tudo o que se tem e se é, para que Ele “faça conforme a Sua vontade”.

Como toda boa filosofia, A.M.D.G. é um modo de vida.

O filme Carruagens de Fogo, de 1980, destacou um grupo de corredores britânicos antes e durante as Olimpíadas de 1924. Um deles, o velocista Eric Liddell, filho de missionários escoceses na China, estava prestes a partir para esse país com sua irmã para continuar o trabalho da família na divulgação do Evangelho. Sentado com seu pai diante da lareira, discutindo essa decisão, Liddell se via dividido: deveria partir imediatamente para a China e fazer o que considerava “a obra de Deus”, ou adiar a viagem para tentar conquistar glória por si mesmo e por sua pátria? Seu pai desmonta esse falso dilema: ser missionário não era o único caminho para glorificar a Deus — “Você pode louvar a Deus descascando uma batata, se o fizer com perfeição.” A.M.D.G.

Aquele pastor presbiteriano teria sido um ótimo jesuíta.

Porque viver o “A.M.D.G.” é, no fim das contas, uma espiritualidade. Viver A.M.D.G. significa “encontrar Deus em todas as coisas”. Assim, qualquer atividade — um estudante resolvendo problemas de cálculo, pais trocando fraldas, um operário dando os últimos retoques em um produto, ou alguém descascando uma batata — pode ser um ato de louvor se for feito conscientemente por amor a Deus. Ao viver dessa forma, conseguimos atender ao chamado aparentemente impossível de São Paulo: “Alegrai-vos sempre” e “orai sem cessar” (1 Tessalonicenses 5:16-17).

Viver o A.M.D.G. é um compromisso. Significa oferecer tudo de nós — nossos dons, nossa vida, nossos sonhos — ao Pai, imitando o Filho. Significa dedicar todos os aspectos de nossa existência ao Pai, como fez o Filho: com amor, sacrifício e serviço aos outros — especialmente aos que mais necessitam. Significa dedicar-se, todos os dias, à bela e exigente missão de ser cristão.

Se fomos verdadeiramente formados à sombra das letras A.M.D.G. e nos comprometemos com o que elas representam, se decidirmos viver essa espiritualidade, descobriremos uma verdade fundamental: que as letras A.M.D.G. em nossas camisas, jaquetas e uniformes não são apenas um logotipo, uma “marca” ou um lema.

Elas são uma promessa.

A.M.D.G. / B.V.M.H.
(Ad Maiorem Dei Gloriam / Beatae Virginis Mariae Honorem — Para a maior glória de Deus / Em honra da Bem-Aventurada Virgem Maria)

Fonte: https://www.ignatius.edu/news/september-2023/living-a-m-d-g