Tempo de Quaresma
Quaresma e o sentido da vida cristã.
Por Pe. Isaías Gomes, SJ
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Na quaresma reforçamos o convite de Jesus a viver uma nova e autêntica espiritualidade, diferente daquela religiosidade de aparência, preocupada exclusivamente com regras e status, sem consistência e propósito de conversão.
Ao ensinar aos discípulos, Jesus chama atenção: Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus (Mt 6, 1). Escutamos esse trecho do Evangelho de Mateus na quarta-feira de cinzas, início do tempo quaresmal. Momento em que a Igreja convida a, durante quarenta dias, nos prepararmos para celebrar a nossa vida com a vida entregue de Jesus em sua paixão, sim, a nossa fé na revelação de Deus só faz sentido se ela implica e modifica as nossas existências.
Uma contemplação da vida e morte de Jesus que não se traduz em nossas relações hoje, é como a prática dos fariseus, perdida na regra e no tempo, portanto, infértil.
A Campanha da Fraternidade, gesto concreto quaresmal da Igreja no Brasil neste ano, traz o tema Fraternidade e amizade social, é um convite para voltarmos ao coração do Evangelho, quando nos orienta a ver no outro, preferencialmente no mais necessitado, o próprio Cristo: todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!(Mt 25, 40). E ainda quando o Evangelho de Mateus afirma que somos todos irmãos, sob os cuidados do Cristo (Mt 23, 8). Ninguém é totalmente um outro, ou seja, um estrangeiro, o rosto do outro sempre nos será familiar, pois todos nós somos filhos e filhas de Deus, irmãos.
A quaresma é, portanto, um apelo ao não esquecimento do sentido da nossa vida cristã, uma vida fraterna, onde o egoísmo, o individualismo e a violência não têm lugar. Porém, em um mundo transpassado por estas realidades, temos o dever cristão de denunciar o mal, e com nosso testemunho de caridade, a saber, de amor, transformar o mundo. A capacidade para isso nasce do nosso relacionamento com Jesus Cristo, que molda nossas vidas e nos lança para além de nossos medos e orgulhos.
Particularmente questiona sobre o modo como estamos vivendo, desde o descompromisso com a sua palavra ao falso engajamento que muitas vezes se resume a um somatório de práticas penitenciais vazias e violentas conosco mesmo e com o nosso próximo. Não adianta ser fiel às celebrações da quaresma, fazer orações de madrugada etc se continuo como um fariseu justiceiro, destilando ódio e desesperança ao meu redor, nas redes sociais e especialmente para minha família.
O foco do exercício espiritual da quaresma não é o pecado, o pessoal e do outro, mas a misericórdia de Deus e o nosso desejo de conversão.
Boa quaresma a todos!
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